DO OUTRO LADO
Os ares estão empestados
O céu cinzento
O sol não brilha há muito
E os montes escureceram.
O horizonte deixou de existir
As manhãs são frias
As tardes carregadas e sangrentas.
Não há olhos para a Natureza
Ou ... quem sabe, Natureza para os olhos!
A noite invade pouco e pouco os Sêres, montes e vales
Não tardará que as trevas, vigiem e dominem todo o gesto
Olha à tua volta:
Os teus olhos cansados só avistam o grande pântano
Ao teu nariz chegam os cheiros mais pestilentos
E aos teus ouvidos o barulho infernal da grande máquina.
O lodo já te chega aos joelhos, mas o teu espírito ainda repousa no doce letargo.
Não passas de uma besta!
Que digo!' não terei eu ofendido o santo orgulho bestial?
Se trocasses a tua cabeça pela de um humilde asno, continuarias asno, mas o asno seria sábio.
Mundo imperfeito e injusto!
Julho, 1976
Joaquim Nabais, do livro "MUTAÇÕES" Almada - Julho 78
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