Sigo por essa estrada
Entre visões fantásticas
Emergindo da névoa cinzenta
Surgem troncos rugosos e nus
Ossos lançando um lamento
Craneos gritando ao vento
Vento que uiva no pântano
Entre corpos esguios e informes
Traz murmúrios de gritos de desespero
De terras por onde passou
Não posso! não quero ouvir esse vento!
Sem ser forte sem ser herói, tento
Sair dessas entranhas
Dum mundo nefasto e podre
Uma noite sonhei
Com um velho que me falou
Diz que lá detrás das montanhas
Ainda há sol
Que dá luz e faz tudo brilhar
E que as pessoas falam umas para as outras
E que cantam
E que riem
Que choram
E que há árvores e rios
Campos e florestas
E aves no céu
E que o céu é azul
E o ar fica perfumado quando chove
E eu vou para aí
Para lá das montanhas
Sigo por essa estrada
Entre mortos e ambulantes
Procurando ora viva ora apagada
Uma quimera muito antiga
A que já chamaram VIDA:
Agosto, 1977
2 comentários:
A poesia é sempre um desafio. Para quem escreve e para quem lê. Nem sempre é fácil encontrar ou procurar encontrar um sentido onde ele não tem decididamente de existir. Mesmo assim arrisco numa procura por parte do autor, não de um sentido, mas quiçá de uma essência (A "vida verdadeira" de que falava Manuel da Fonseca?). O sentido telúrico e o apelo/grito à "besta" humana para uma "mutação" serão reflexos disso mesmo.
Mas tudo isto são suposições...
Dá, por mim, os parabéns ao teu irmão, por tão brilhante momento de escrita.
Enviar um comentário