quarta-feira, julho 16, 2008

Coisas do Mano 04









Sigo por essa estrada

Entre visões fantásticas

Emergindo da névoa cinzenta

Surgem troncos rugosos e nus

Ossos lançando um lamento

Craneos gritando ao vento
Vento que uiva no pântano

Entre corpos esguios e informes

Traz murmúrios de gritos de desespero
De terras por onde passou

Não posso! não quero ouvir esse vento!

Sem ser forte sem ser herói, tento

Sair dessas entranhas

Dum mundo nefasto e podre

Uma noite sonhei


Com um velho que me falou

Diz que lá detrás das montanhas

Ainda há sol

Que dá luz e faz tudo brilhar
E que as pessoas falam umas para as outras

E que cantam

E que riem
Que choram

E que há árvores e rios

Campos e florestas


E aves no céu

E que o céu é azul

E o ar fica perfumado quando chove

E eu vou para aí

Para lá das montanhas

Sigo por essa estrada

Entre mortos e ambulantes

Procurando ora viva ora apagada

Uma quimera muito antiga

A que já chamaram VIDA:
Agosto, 1977





Joaquim Nabais do Livro "MUTAÇÂO" Almada julho 78

2 comentários:

autopilote disse...

A poesia é sempre um desafio. Para quem escreve e para quem lê. Nem sempre é fácil encontrar ou procurar encontrar um sentido onde ele não tem decididamente de existir. Mesmo assim arrisco numa procura por parte do autor, não de um sentido, mas quiçá de uma essência (A "vida verdadeira" de que falava Manuel da Fonseca?). O sentido telúrico e o apelo/grito à "besta" humana para uma "mutação" serão reflexos disso mesmo.

Mas tudo isto são suposições...

Anónimo disse...

Dá, por mim, os parabéns ao teu irmão, por tão brilhante momento de escrita.